sábado, abril 03, 2010

Fernando Pessoa

O mistério do mundo,
O íntimo, horroroso, desolado,
Verdadeiro mistério da existência,
Consiste em haver esse mistério.
...

Não é a dor de já não poder crer
Que m’oprime, nem a de não saber,
Mas apenas completamente o horror
De ter visto o mistério frente a frente,
De tê-lo visto e compreendido em toda
A sua infinidade de mistério.
...

Quanto mais fundamente penso, mais
Profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar...

Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.
...

Quanto mais claro
Vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo
Menos me sinto compreendido. Ó horror
paradoxal deste pensar...
...

Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n’alma essa alegria!

2 comentários:

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=IBR8JA0mDns&feature=related

Anónimo disse...

Não concordo com essa pessoa que diz que só a inocência e a ignorância são felizes. São como as fazes de uma vida... tudo tem o seu tempo... e morrer na ignorância como pessoa morreu e só vir a ser lembrado póstumamente deve de ser triste. É como te digo. A vida é composta por fases. Também não concordo que o conhecimento absoluto nos traga felicidade porque o que hoje é verdade amanhã poderá não o ser.